Sempre valorizei a capacidade que algumas pessoas têm de transmitir suas ideias e seus conhecimentos na forma escrita.
Por outro lado, seria ingênuo não perceber a tendência de uma grande maioria preferir outros meios de comunicação em detrimento da opção de escrever qualquer coisa.
Vejam o WhatsApp, por exemplo. Cada vez mais, seus usuários gravam mensagens de voz, às vezes mais longas do que deveriam ser, não é mesmo? E já existe o Clubhouse, uma rede social somente com uso de mensagens de voz.
Eu sei que sou exceção, mas praticamente não gravo minhas mensagens e quando o faço, elas nunca duram mais que dez segundos. Além disso, a mensagem inicial de meu perfil já dá um recado claro. Ela diz:” Por favor, evitem mensagens de áudio longas”.
Já escutei desaforos por agir assim. Dizem que estou ficando velho e desatualizado, o que é injusto, embora tenha seu lado de verdade.
Todavia, quando relacionamos a capacidade de escrever bem com os comportamentos e competências de grandes líderes, aí a coisa pega.
Podem acreditar, tenho colegas que ocupam posições de alta liderança em grandes empresas, dos quais não consigo me lembrar sequer de um simples e-mail mais elaborado que tenham enviado para mim ou para seus interlocutores entre os quais eu me incluía. Um texto ou artigo sobre suas opiniões em relação a algum tema, então isso já seria uma raridade. E estou certo de que seriam capazes disso, mas simplesmente não o fazem por opção.
Um recente artigo do executivo e escritor Adam Bryant aborda este tema com algumas observações muito interessantes, e traz também algumas dicas úteis para os líderes que valorizem a forte conexão entre a arte de liderar e a competência de se comunicar bem por escrito.
Ele começa sugerindo que os líderes deveriam colocar em suas listas de objetivos anuais a meta: “melhorar suas habilidades de escrita”. Até porque, nesse novo momento que traz maior distanciamento com seus times, cada vez mais esses líderes necessitarão se comunicar por e-mails, memorandos ou tweets, todos na forma escrita.
Mas, além de escrever muito mais e com maior frequência, os líderes precisariam tomar cuidados essenciais para que consigam alcançar os objetivos que pretendem com aquilo que escrevem.
Nesse contexto, o mais importante é evitar escrever de forma muito diferente de como falam.
Às vezes, ou melhor, muitas vezes, eles capricham no uso de termos bonitos e sofisticados e isso os distancia de modo indesejável dos seus interlocutores. Nesse caso, a dica é simples, se você escrever algo importante para alguém, leia em voz alta e se questione antes de enviar: “Eu falaria isso da mesma forma como escrevi?”
Um outro problema ocorre quando tais líderes se tornam experts num assunto e quando escrevem algo sobre ele, se empolgam e imaginam que seus leitores estão no mesmo nível de conhecimento.
Creio não ser necessário concluir sobre o que isso pode acarretar.
Mais um último ponto, aqueles que leem mais, tendem a escrever melhor por um motivo óbvio, eles incorporam um vocabulário maior em termos quantitativos e, principalmente, qualitativos.
Enfim, é verdade que alguns líderes chegaram bem longe, sem que fossem reconhecidos como referências por sua capacidade de escrever bem.
Todavia, penso que os líderes atuais, que se defrontam com situações em que a comunicação tende a ser um de seus maiores fatores de sucesso, terão mais sucesso se souberem escrever com qualidade.
Porém, poderão desperdiçar a chance de usar todo seu potencial se preferirem sempre o pequeno microfone no lado inferior direito de seu aplicativo.
Você compreendeu, ou prefere que eu grave uma mensagem?
Comments